APRESENTAÇÃO! Oss... Uma página e uma visão pessoal sobre o Karate-Do em geral e sobre o Goju-Ryu Seigokan em particular é uma tarefa imensa. "A via do Budo é fazer do coração do Universo o nosso próprio coração." - Morihei Ueshiba. Esperamos estar à altura do que nos propusemos empreender... Eduardo Lopes

sábado, 8 de junho de 2013

João Salgado - O Adeus

Este é daqueles artigos que mais custam escrever. O meu amigo João Salgado partiu. Partiu, sem nos avisar, ou pelo menos, sem que nada o fizesse prever. Sim, porque o aviso já tinha sido dado há uns anos com um pequeno enfarte. Era já um aviso. A sua actividade era por demais intensa, no âmbito da Federação Nacional de Karaté, nacional e internacionalmente. Não havia campeonato, em que o João não quisesse deixar de estar presente. Quer ele fosse regional, nacional ou internacional, sempre acompanhando as nossas selecções. Não satisfeito com isso, ainda arranjou maneira de ser eleito para o Comité Olímpico. Por mérito próprio, é certo. Era daquelas pessoas que dominava a língua verbalmente e tinha o dom de bem comunicar e arrastar plateias. Teria dado sem dúvida um grande político, se por aí tivesse querido enveredar. Mas a sua paixão era o Karaté, que desde há décadas, embora já não muito novo, começou a praticar. O seu estilo, o Goju-Ryu. A sua Escola ou Associação (Kai-Ha), a Seigokan. Desde sempre. Para sempre. A Seigokan dos treinos árduos e duros do Fundador em Portugal, o Sensei Katsumune Nagai. Pelo meio, pequenos devaneios e quezílias, rapidamente resolvidas. Até com o Hombu Dojo. Mas foram de facto pequenos desentendimentos que o coração rapidamente tratou de solucionar. A grandeza da Seigokan era (é) muito superior a todos os interesses mesquinhos. Os mesquinhos e medíocres abandonaram-na. O João não. O João era, é e sempre será, dos GRANDES. Sabia discernir, apreciar, interpretar e compreender. A sua visão sobre o Karaté sempre foi avançada e abrangente. Nunca foi sectário. Sempre gerou os maiores consensos. Era disso que o Karaté Nacional precisava e precisa. Por vezes (muitas vezes... a maioria das vezes), prejudicando a sua própria Associação, tal era a sua preocupação em manter a independência. Mas depressa o compreendemos, sempre colaborámos e tudo suportámos. Para o bem colectivo. Para os superiores interesses nacionais da faceta desportiva da nossa Arte Marcial. A sua grandeza viu-se no seu funeral. Os jovens karatekas das selecções nacionais presentes. Os seus mestres presentes. Altas individualidades do desporto nacional e do governo, presentes. Até o Presidente da Federação Mundial de Karaté (WKF), esteve presente. Lindo o espírito transmitido pelos jovens entoando os cânticos das selecções. Como alguém disse no seu funeral, o João faleceu no dia 3. O três (3) é o número representativo da Kata Sanchin. A kata representativa do Go (força, poder, contracção) do Goju-Ryu. Tinha agendado para breve, sem data ainda marcada, é certo, um almoço com o João, para ele me transmitir as suas pequenas histórias e a memória viva do seu período áureo, enquanto praticante na Escola de Budo. Seria a sua contribuição para a "História da Seigokan em Portugal", ainda por escrever, ou antes, por concluir. Estupidamente fui adiando. Outro projecto tinha-se metido à frente. E muito sinceramente, cheguei a ter a premonição; e se o João ainda morre? As prioridades não foram bem avaliadas. Agora é tarde. Demasiado tarde. Já não há nada a fazer. A "História da Seigokan em Portugal" ficará certamente mais pobre. Demasiado pobre. Prematuramente mais pobre.
Adeus, João. Havemos de nos encontrar um dia.
Até Sempre! Viva a Seigokan!
Seigokan... Sempre!
3 Faitôs...

Eduardo Lopes